Laniakea: o novo endereço da Via Láctea no Universo


O superaglomerado de galáxias no qual a Via Láctea está incluída é 100 vezes maior em volume e massa do que anteriormente se pensava, segundo um grupo de astrônomos. Eles mapearam essa enorme região e a deram o nome de Laniakea ("céu imensurável", na língua havaiana nativa). As galáxias tendem a se amontoar em grupos chamados de aglomerados; regiões onde esse aglomerados estão mais densamente presentes são conhecidos como superaglomerados. Porém, a definição para essas massivas estruturas cósmicas é um tanto vaga.

O novo estudo, publicado na Revista Nature, descreve uma nova maneira de definir onde um superaglomerado acaba e onde outro começa. Uma equipe liderada por Brent Tully, um astrônomo da Universidade do Havaí em Honolulu, mapeou o movimento das galáxias para inferir a paisagem gravitacional do Universo local, e redesenhar essa mapa.


A equipe utilizou um banco de dados que compilava as velocidades de 8 mil galáxias, calculadas depois de subtrair a taxa média de expansão cósmica. "Todos esses desvios são devidos à atração gravitacional das galáxias ao redor delas, o que provém da massa", diz Tully. Os pesquisadores usaram um algoritmo para traduzir essas velocidades para um campo tri-dimensional de fluxo e densidade de galáxias. "Nós realmente não podemos reivindicar um bom entendimento de cosmologia se não não conseguíssemos explicar esse movimento", segundo Tully.

Esse método representa mais do que apenas apenas mapear a localização dessa matéria, porque ele habilita aos cientistas construir um mapa das regiões desconhecidas do Universo, disse Paulo Lopes, um astrofísico do Observatório de Valongo, parcialmente pertencente a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele se baseia na detecção da influência das galáxias, em vez de observá-las diretamente. Além disso, o movimento das galáxias reflete a distribuição de toda a matéria, não apenas àquela que é visível em nossos telescópios - incluindo a matéria escura.


Descontando a expansão cósmica, o mapa deles mostra linhas de fluxo descendente onde as galáxias se 'arrastam' sob a influência da gravidade em suas regiões locais. Baseado nisso, a equipe definiu a borda de um superaglomerado de acordo com a fronteira por onde essas linhas de fluxo divergem. De um lado da linha, as galáxias fluem em direção à um centro de gravidade; do outro, elas fluem em direção a um centro de gravidade diferente. "Isso é como água sendo dividida entre bacias hidrográficas, onde ela flui tanto para a direita quanto para a esquerda a partir de uma serra", diz Tully.

Essa é uma definição totalmente nova de um superaglomerado. Os cientistas anteriormente colocaram a Via Láctea no Superaglomerado de Virgo, mas sob a definição de Tully e seus colegas, essa região assou a ser apenas um apêndice da enorme Laniakea, que possui 160 milhões de parsecs de diâmetro (520 milhões de anos-luz) e contém a massa de 100 milhões de bilhões de sóis (10^17 massas solares).


Contudo, esse trabalho provavelmente não representa a resposta final para o que é um superaglomerado, disse Gayoung Chon, um astrônomo do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, em Garching, Alemanha. Seu time trabalha numa definição diferente, baseada na ideia de que superaglomerados são estruturas que irão um dia colapsar num único objeto. Isso não vai acontecer para Laniakea, calcula Gayoung, porque algumas das galáxias presentes nela recuam uma em relação as outras eternamente. "A definição a ser usada na verdade depende de quais questões você quer responder. O último método é uma ótima forma de traçar as estruturas em larga escala do Universo, mas ela não responde o que eventualmente vai acontecer para esses superaglomerados", diz ela.

Apesar do mapa ser compreensível para o Universo que cerca a Via Láctea, suas medições a distância se tornam menos apuradas, e menos numerosas, quanto mais longe você vai, diz Lopes. Essa é a técnica atual que possui o maior potencial de ser uma fonte de erros, diz ele, mas adicionando medições de mais galáxias conseguiremos aprimorar o mapa e até, eventualmente, ajudar os cientistas a desvendar o que há por trás da movimentação do nosso grupo local de galáxias.

Fonte: Nature

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